PIB cresce 3,2% nos 12 meses terminados em junho

Foto: Agência Brasil O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumula alta de 3,2% nos quatro trimestres terminados em junho de 2025, frente ao mesmo período imediatamente anterior, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta terça-feira (2/9).   Comparado a igual período de 2024, houve crescimento de 2,2% no segundo trimestre de 2025, com o consumo das famílias tendo crescido 1,8%, influenciado pelos aumentos na massa salarial real e no crédito disponível às famílias, bem como pelas transferências governamentais de renda às famílias. Neste recorte, houve crescimento na Agropecuária (10,1%), na Indústria (1,1%) e nos Serviços (2,0%).   Já em relação ao primeiro trimestre deste ano, o PIB variou 0,4% no segundo trimestre de 2025, na série com ajuste sazonal. Pela ótica da produção, houve alta nos Serviços (0,6%) e na Indústria (0,5%), enquanto a Agropecuária (-0,1%) não mostrou variação significativa. O desempenho positivo n...

O fim do mito

Por Victor Missiato

Foto: Divulgação
Jair Messias Bolsonaro tirou a direita do armário no século XXI. Antes dele, quase todos os políticos temiam se autoproclamar candidatos conservadores. Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu colocar a pecha de direita no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), então liderado por um antigo professor da USP que havia passado parte da vida se dedicando ao marxismo, todos os seus candidatos lutaram para evitar tal estigma. Até 2014, seus presidenciáveis, inclusive, omitiam o legado tucano das presidências de Fernando Henrique Cardoso. Aécio Neves, na campanha presidencial, chegou a esboçar uma revitalização dessa tradição, mas acabou derrotado com uma porcentagem mínima contra Dilma Rousseff.

Em 2018, com Lula preso e sua quase unanimidade destruída, uma nova onda invadia a mentalidade brasileira como um tsunami. Afirmando ser o novo, mesmo com uma bagagem de vários mandatos como deputado, Bolsonaro obteve uma das vitórias mais espetaculares da política brasileira. Com um engajamento inédito na internet, com quase nenhum espaço nos tradicionais meios de comunicação de massa, Bolsonaro venceu o PT depois de 16 anos e quatro vitórias presidenciais consecutivas.

O episódio da facada, ocorrido no interior de Minas Gerais, reforçou seu poder, mas, ao contrário do que muitos afirmam, não foi determinante para sua vitória. Bolsonaro largou como favorito e nunca perdeu essa posição ao longo da campanha eleitoral. Com ele, a direita não mais temeu dizer o seu nome.

Com um discurso híbrido, que misturava valores militares, conservadores e a defesa de políticas liberais na economia, Bolsonaro escolheu alguns “superministros” e obteve boas impressões até a eclosão da pandemia de Covid-19, quando, em 2020, teve que conduzir um governo de salvação nacional. Optou por uma perspectiva econômica, centrada no comércio e no emprego, sendo duramente criticado por suas políticas de saúde.

Mesmo sendo derrotado por uma pequena margem na disputa com Lula, em 2022, Bolsonaro elegeu candidatos que sequer sonhavam em conquistar governos estaduais ou cadeiras no Legislativo. Como um Midas tupiniquim, naquele período, onde o “Mito” tocava, uma candidatura disparava. Assim, Bolsonaro propiciou à direita brasileira a oportunidade de voltar à Presidência por diversos mandatos no futuro, embora Lula ainda seja o favorito nas eleições do ano que vem.

Todavia, esse legado começou a enfrentar a concorrência da indiferença. Seus aliados mais próximos, no campo das opiniões, sofreram com prisões e cancelamentos judiciais. Por mais que ainda mantivesse uma base fiel às suas visões de mundo, as ruas foram perdendo fôlego, as opiniões conservadoras sofreram moderações e antigos aliados viraram as costas.

Bolsonaro sentiu o golpe. Nas últimas vezes em que subiu a um palanque, pouco conseguiu inflamar seus apoiadores e seu legado passou a ser disputado entre governadores, seus filhos, sua esposa e deputados. A mais recente decisão do presidente norte-americano, Donald J. Trump, de retaliar o Brasil por conta da condenação prévia de Bolsonaro na Justiça apenas enfraqueceu ainda mais sua imagem mitológica.

Prestes a ser condenado por uma tentativa de golpe, entre outros crimes, Bolsonaro ainda influenciará os processos eleitorais de 2026. No entanto, analisando os rumos da política, nota-se que até os governadores eleitos sob sua influência já estão adotando uma postura mais centrista em detrimento da continuidade de seu legado. O bolsonarismo recriou a direita brasileira, mas não desenvolveu uma nova cultura política. A tendência é que essa herança liberal-conservadora se adapte à antiga roupagem tucana, como já vem acontecendo com a imagem dos futuros presidenciáveis da direita brasileira.

Victor Missiato é professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie, Tamboré. Dr. em História e analista político

*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.

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